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poema "Cais" por Joao Pires

Cais És parte da margem do rio És parte da margem do mar És Douro num lindo desafio Embarque de mercadorias e passageiros Que de noite vem pela calada Desembarcam sem se ver No meio da bicharada Para se abastecer Tens água que sobe Barcos que passam ao largo E nada te move Da tua missão sem amargo És cais que um dia Acolheste o teu primeiro amor Com grande acalmia E sem grande pavor És ainda lugar nas estações de caminho de ferro Que espera gente De todos os destinos Com o relógio que marca o tempo Há areia no cais Perfume de verde-rio Temperado com sal do mar Assente em grandes pedras E tu não chegas nunca mais Noites tranquilas Embaladas pela água E o perfume da maresia Segredos que me trazes De noite para o cais De madrugada Levas mensagens De manhã Passavam os arrais Montados nos barcos Sempre confidenciais Trago segredos Das quintas do Douro Entre as margens fluviais Pelo meio de

poema "Como eu preciso do Salvador" por Joao Pires

Como eu preciso do Salvador Pouco experimentei da vida Que vida esta, sem algum calor Salvará de forma atrevida Mas não tenho medo da morte Escravatura dos tempos modernos Consumo de plástico sem norte A fome que grassa pelos povos O avião em emergência Aterrou com o Salvador a bordo Veio salvar o povo dos flagelos Sem qualquer negligência E eu finalmente acordo Esperado desde os tempos antigos 12-11-2018   João Pires autor do romance  AMAR EM BAGOS DOURO

poema "Sei que perdeste um pouco de mim" por João Pires

Sei que perdeste um pouco de mim Para o outro lado da rua Desejaste voar como um chapim Mostraste a natureza humana Sei que perdi um pouco de ti Na estrada e dentro da carripana Na face oculta do teu desejo Voar mais alto como quem ama Um abraço como água no deserto No vasto reino perdido dos afectos Era tudo o que procuraste Olhar em chama de vela acesa Que um certo dia se extinguirá Dentro do teu diário sentimental 20-08-2018 João Pires Autor do livro AMAR EM BAGOS DOURO      

tinta permanente - João Pires - "Olhos Negros" (v2)

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Estou só no cimo da muralha, ao amanhecer. O céu ainda está adormecido. Vestindo uma camisa preta, enterro as mãos nos bolsos para me aquecer do frio da madrugada. Ao longe, vejo a cidade entorpecida. Luzes apagadas e silhuetas de torres altas embriagadas de sono. Sopra um vento cortante que me alisa o cabelo. De olhos bem abertos, aponto para o infinito. Surgem sobre a linha do horizonte, tons alaranjados em forma de fatia no limite do céu ainda escuro. Por detrás das vidraças sujas e enormes, já sem o vento dilacerante, aprecio melhor o céu laranja no horizonte. Visto o casaco de couro preto e desço em passo apressado as escadas de ferro até à rua ainda escura. Um anúncio luminoso acende descompassadamente.        Subo para a bicicleta e pedalo sobre a cidade sem movimento. Apenas alguns candeeiros dão vida às ruas, criando sombras  projectadas  sobre os edifícios industriais desertos. Sacos de lixo abandonados sobre os passeios, obrigam a uma  trajectória  ziguezagueante.

tinta permanente - João Pires - "Olhos Negros"

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Estou só no cimo da muralha , ao amanhecer. O céu ainda está adormecido. Estou de camisa preta e mãos enfiadas nos bolsos para me aquecer do frio da madrugada. Ao longe, vejo a cidade adormecida. Luzes apagadas e silhuetas de torres altas embriagadas de sono. Sopra um vento forte que me alisa o cabelo. De olhos bem abertos, aponto para o infinito.  Surgem sobre a linha do horizonte, tons alaranjados em forma de faixa no limite do céu ainda escuro. Por detrás de vidraças enormes, já sem o vento cortante, aprecio melhor o céu laranja no horizonte. Visto o casaco em couro preto e desço em passo apressado as escadas de ferro até à rua ainda escura. Um anúncio luminoso acende intermitentemente. Subo para a bicicleta e pedalo sobre a cidade sem movimento. Apenas alguns candeeiros dão vida às ruas, criando sombras  projectadas  sobre os edifícios industriais abandonados. Sacos abandonados lixo sobre os passeios obrigam a uma  trajectória  ziguezagueante.  Paro um pouco mais à frente

tinta permanente - João Pires - "Noite Perfeita"

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Noite Perfeita Segue no comboio, com o boné enterrado até aos olhos. Lá fora, o sol brilha sobre a neve. As árvores não tremem de frio.   Sentado só no banco junto à janela, olha para a foto dela.   Aquela foto do tempo em que foram felizes. Manuseia-a com carinho. Segura-a com as duas mãos. Como se a pudesse acariciar. Guarda-a cuidadosamente no bolso do casaco e de seguida pega na mochila.   Prepara-se para sair do comboio. A porta abre-se e desce as escadas, olhando em volta. Paro mais à frente e volta-se para uma janela grande, ainda na zona da gare. Olha com mais atenção para o interior e reencontra o seu sorriso. Ela estava lá à sua espera. Está igual à foto que há momentos acabara de apreciar uma vez mais. Dirige-se para o interior do café e corresponde ao seu sorriso. Depois de um abraço apertado e na companhia de um café quente, recordam outros tempos. Pouco mudaram.    Inesperadamente, ela levanta-se e corre na  direcção  de um rapaz alto de cami